Cada projeto, peça de arte, design e pesquisa produzidos por Laura Tuccan são resultado de uma extensa pesquisa e processo de criação transdisciplinar. Para mim, Arquitetura, Arte, Design e Ciência se expandem e se sobrepõem em uma ampla área de fronteiras permeáveis sob o intuito de explorar a relação da espécie Homo Sapiens com o espaço natural por ela habitado e transformado, em um esforço para a construção de espaços sustentáveis e uma relação simbiótica com a natureza.
A pesquisa transdisciplinar pressupõe uma pluralidade epistemológica e requer a integração de processos dialéticos e dialógicos que emergem da pesquisa e mantém o conhecimento como sistema aberto. Segundo Basarab Nicolescu, autor do Manifesto da Transdisciplinaridade (1999, p.22): “como o prefixo ‘trans’ indica, diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina”.
O processo se inicia por meio da Ciência, a partir de um estudo aprofundado sobre determinado organismo vivo que será figura motriz do trabalho, incluindo sua composição, estrutura, aspectos formais, funcionamento interno e comportamento em relação ao ecossistema.
Tais informações me conduzem a uma abordagem no Design, por meio do qual esboços permitem analisar sua aplicabilidade e função para a espécie humana. Posteriormente, esse material levará a experimentações nos campos da Arquitetura e Arte. Há aqui uma relação alternativa. O campo a ser trabalhado em primeira instância varia de acordo com todo o processo anterior, o meu foco de estudo no momento e para onde a criatividade me levará. Ainda assim, a criação de um objeto em um desses campos causa a condição em que a experiência estética derivada dele suscita novas informações e conexões com informações deixadas no decorrer do processo que conduzirão à uma nova interpretação do mesmo e a criação no outro campo.
O resultado é a construção de um pensamento complexo na definição de Morin e Le Moigne (2000, p.207) “o pensamento capaz de reunir (complexus: aquilo que é tecido conjuntamente), de contextualizar, de globalizar, mas ao mesmo tempo, capaz de reconhecer o singular, o individual, o concreto.” Configura um prisma que reconhece diversos níveis de realidade, assim como diferentes formas de acessá-los através das razões formal, sensível e experiencial. Segundo Vieira (2008), a complexidade pode ser subdividida em duas formas: a ontológica (a complexidade que realmente existe nas coisas) e a semiótica (que reside na complexidade de representações das coisas). Dessa forma o objeto final do meu trabalho faz-se duplamente sistêmico: em uma primeira instância, pela maneira como é idealizado e construído e, em um segundo momento, pelo modo de recepção, interpretação e disseminação intersistêmica via indivíduos.